Em dezembro de 2004 fui ao supermercado com minha neta, que na época
tinha dois anos e meio. Como ficava pertinho, fomos a pé. Ao dobrarmos a
esquina da nossa rua com a avenida em que ficava o supermercado,
devidamente decorado para a ocasião, ela gritou: “Olha, vovô, a árvore
de Natal! Olha o Papai Noel!”.
Imediatamente pensei em como é difícil incutir nas nossas crianças o
verdadeiro sentido do Natal. A árvore de Natal, cheia de neve no verão
do Rio de Janeiro, o Papai Noel, com aquela roupa pesada suando em
bicas, as guirlandas (aquelas que são penduradas nas portas), os
cartões, as refeições, os presentes, etc., que certamente nunca fizeram
parte do Natal que está narrado na Bíblia, tão arraigados estão na nossa
cultura que não podemos evitá-los, ou, pior ainda, não conseguimos
descolá-los do significado genuíno do Natal de Jesus.
Não estamos falando de abominar o uso disso ou daquilo, até porque há
pessoas que não podem passar sem essas coisas. Estamos nos referindo ao
real objetivo do Natal: Deus se humilhando e tornando-se um de nós,
para nos mostrar o seu amor e a sua graça; o Senhor dando-nos o seu
próprio Filho para ser o nosso Salvador.
O natal é algo sobrenatural, um
milagre de Deus, muito acima de árvores artificiais, presentes, comidas
especiais e roupas novas. É motivo de alegria espiritual, de temor no
coração, e de adoração sincera e simples. É algo que nos faz cantar e
anunciar a todos a glória, o amor e a graça de Deus.
O natal é para ser celebrado em família com esses pensamentos no
coração, mas é também para ser vivido na nossa experiência do dia-a-dia.
Devemos nos lembrar do amor, da harmonia e da paz não somente nessa
ocasião, mas em todo o ano. Já repararam que há algumas pessoas das
quais só nos lembramos quando mandamos um cartão de Natal?
As pessoas que não têm um correto relacionamento com Deus, usam a
ocasião do Natal para celebrar sentimentos ou virtudes: o amor, a paz, a
harmonia, a boa-vontade, a alegria. Nós, porém, celebramos uma pessoa:
Jesus, o Salvador, que é quem nos proporciona o verdadeiro amor a Deus e
ao próximo, a verdadeira paz com Deus e com o próximo, etc. Busquemos
celebrar da maneira correta, e mostremos aos nossos amigos e colegas de
trabalho ou de escola e aos nossos vizinhos e parentes a verdadeira
razão do Natal.
Aliás, a palavra celebração virou moda ultimamente entre os
evangélicos, e em alguns casos tornou-se até um termo técnico para
significar as grandes reuniões das mega-igrejas, especialmente daquelas
que são baseadas em grupos pequenos. E isto desvirtuou o sentido bíblico
da palavra (e do verbo correspondente: celebrar). Celebração é um dos
significados possíveis para sacrifício, especificamente o sacrifício em
ação de graças, também chamado de oferta pacífica, que era basicamente
um sacrifício particular, ou oferecido pela família, em que o próprio
ofertante deveria participar, abatendo ele mesmo o animal a ser
oferecido, como se pode ler em Levíticos 3. Somente na festa de
Pentecostes e na consagração de sacerdotes, este tipo de sacrifício
torna-va-se público.
Portanto, celebrar, no estrito sentido bíblico do Velho Testamento, é
oferecer ação de graças, quase sempre individualmente ou como família.
Quando dizemos, pois, que a igreja deve celebrar o Salvador, estamos
significando que cada crente deve aproveitar esta ocasião do Natal, para
fazer aquilo que é verdadeiramente adequado para esta época: tão
somente celebrar ao Senhor, por ter ele enviado o seu Filho como nosso
Salvador.
Isto nos trará dificuldades, tanto no nível individual, como no nível
familiar, porque em geral boa parte das pessoas com que nos
relacionamos, numa situação ou na outra, tem motivos bem diferentes para
celebrar o Natal. Para elas, Natal é ocasião para troca de presentes,
refeições elaboradas, alto consumo de bebidas e comemorações nada
cristãs. Como sempre estas pessoas estranharão nosso modo de celebrar e o
criticarão. Por isso mesmo, contudo, nossa celebração poderá tornar-se
uma grande oportunidade para testemunhar daquele que transformou a nossa
vida, o verdadeiro Cristo do Natal, o Salvador do mundo.
Quero, portanto, desafiar os leitores cristãos a celebrar da maneira
certa o Natal, não esquecendo nunca que ele é o aniversário de uma
pessoa muito especial, a mais importante em nossa vida: o Senhor Jesus.
Por isso, toda a honra e toda a glória da festa é dele, para ele e por
ele.
Pr. Sylvio Macri
Pastor da IB Central de Oswaldo Cruz-RJ
Pastor da IB Central de Oswaldo Cruz-RJ