Por que facilmente desaprendemos a amar?

A gente sabe, mas é sempre gostoso ouvir ou ler: “Deus é especialista no impossível!" E quando se trata de amor, de coisas do coração, é Ele quem pode fazer e refazer caminhos. No caso de gente sozinha, especialmente divorciada, tudo começa com o prefixo “re”, de recomeçar, reaprender, reeditar... E Deus não está fora de nada disso. É nesta hora que eu me animo para falar em nome do pequenino trecho em João 15.12: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”. Pronto! Tá quase garantido! Mas posso acrescentar 1 João 4.19: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”. Mas creio que ainda falta um pouco mais de esforço para entender o que significa amor, aquele tão facilmente declarado e sempre proclamado via 1 Coríntios 13.4-8, que afirma que o amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 

O amor jamais acaba”. Mesmo assim, com todas as orientações e teorias, falta-nos uma aguda percepção que nos possibilite compreender que amar requer quebrantamento. Como nossa cultura nos impele a solicitar muito mais curas, sucesso e conquistas, esquecemos que também é preciso pedir perdão a Deus devido a nossa limitação para amar o outro, como também predisposição para tal. Não sei, mas creio que aprender a amar é um desafio, um exercício, uma missão, que deve partir de um querer. Mas a iniciativa de amar veio de Deus. Ele foi o primeiro exemplo, o maior paradigma. Foi Ele quem nos amou primeiro e sempre nos convida ao amor.

Também creio que o verdadeiro amor é tão poderoso que não se explica. Existe, porém, de uma escolha. Escolher amar alguém por vontade própria e não por necessidade. Escolher amar porque é um mandamento e não porque o outro sempre nos satisfaz. Porém, como somos seres reagentes, devolvemos o que recebemos. Acabamos ferindo porque fomos feridos ou mesmo não sabemos amar porque não recebemos amor. Entretanto, quando Deus torna-se nossa provisão de amor, encontramos uma razão mais concreta para amar o próximo. Experimentar o amor do Pai, do Filho e do Espírito é estar provido da capacidade de amar alguém da mesma forma como fomos amados por Deus. Já é um começo. 

Principalmente, quando compreendemos que amar é bem diferente de gostar. Quando alguém gosta, sente desejo de estar junto com o outro, de passar horas juntos, de dividir momentos. Mas quem ama sente desejo de servir ao outro, de doar-se, de fazer o bem. A diferença é significativa! E Jesus não disse “gostem-se”. Ele disse “amem-se”! A complicação está em nem sempre termos paciência para gostar, muito menos para amar. Facilmente, desaprendemos o amor. E tantas vezes, amamos sozinhos. Por isto, amar nos dias atuais é quase um milagre. 

E é esse milagre que gera mudanças de comportamento, promove gestos de afetividade, de aproximação e tantos outros frutos do amor. E aí nos perguntamos: o que fizemos ou o que temos feito por quem escolhemos amar? Conseguimos nos empenhar para ver o outro transformado em uma pessoa melhor? É verdade, Deus muda realidades e o faz por meio de nós. Somos instrumentos privilegiados. Mesmo assim, lamentavelmente, nos perdemos. Temos muitas vezes que reaprender o que é amar, identificar o que o desejo de amar pode trazer, ser, fazer, sempre inspirados em Deus, o autor do amor. Sim, creio em milagres. Acredito em casamentos que se refazem, em casais que retornam um para o outro. Como acredito em pessoas que “renascem das cinzas” depois de terem sido “fritadas” pelo sofrimento e têm sua vida refeita com uma nova pessoa. Tudo isso é milagre. E se foi milagre de Deus, significa que Ele age caso a caso. Preciso dizer que Deus sempre esteve em todo meu processo de busca. 

Sei que Ele foi Deus nos meus fracassos, nos meus erros, nos meus enganos, nos meus desassossegos, nos meus pecados, nos meus sonhos, nas minhas tentativas, nas minhas ilusões, nas minhas perdas, nos meus acertos, nos meus ideais... Aos poucos, Ele próprio me ensinou que eu devia deixar de brincar de ser Deus e deixar que Ele o fosse. Como sinto-me como a “vereda do justo que é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Provérbios 4.18), sei que Ele apenas “começou em mim a boa obra e a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus (Filipenses. 1.6). Uau! Sou um potencial de possibilidades. E Ele é um especialista nas impossibilidades. 

Enfim, se amamos a Deus pelo que Ele é e não pelo que Ele dá, vai ser bem melhor fazer uso do poder que Ele tem para consertar as coisas. Ainda mais porque Jesus não apenas morreu por mim e por você, mas ainda vive por mim e por você. Faça excelente proveito disso!


VIRGÍNIA MARTIN
Fonte: www.prazerdapalavra.com.br