Os batistas deletaram o "dia de educação teológica" de suas igrejas

Falar da importância da Teologia para as Igrejas batistas é a mesma coisa que falar da importância da Medicina para o trabalho dos médicos, do Direito para o advogado, juiz e do promotor. Ninguém pensa em entregar seu filho aos cuidados médicos de quem não estudou a Medicina. Da mesma forma que não confiaria uma causa judicial a uma pessoa que não dominasse a ciência do Direito. Contudo, infelizmente, há quem se entregue aos cuidados pastorais de alguém que não estudou a ciência teológica. Ainda pior: há quem entenda que a Teologia atrapalha a vida pastoral e estorva o crescimento da Igreja, impedindo a espiritualidade dos fiéis. 

A Teologia passa a ser condenada por algo que ela não fez e sua ausência se torna elogiada por quem se opõe a ela como inibidora da atuação do Espírito Santo na comunidade. Obviamente, como toda ciência, a Teologia tem seus métodos, princípios, regras e leis próprias. Como arte, ela também se apresenta com beleza, com estilo e com aplicação. Sendo assim, a Teologia se propõe a ser uma ciência alegre, viva, dinâmica, vibrante e atraente. A Teologia é possível e se torna factível sob três axiomas. 

O primeiro trata da existência de Deus. O segundo tem a ver com a Sua Revelação (Bíblia, como sendo a Palavra de Deus) e o terceiro se refere à razão e capacidade humana de compreender as duas afirmações anteriores. Deus, Revelação e cognição. Estas são as três premissas que tornam possível o labor teológico. Deus existe, Deus se revela e o ser humano é capaz de compreender. Embora haja muita produção de textos teológicos, a fonte primeira da Teologia é a Escritura Sagrada como registro da Revelação de Deus através dos seus feitos na História.
Devemos saber que este legado foi produzido pelos Profetas de Israel (no Antigo Testamento) e Apóstolos da Igreja (no Novo Testamento), sob a inspiração do Espírito Santo de Deus. Para que possamos responder às questões do nosso tempo, teremos que partir da Escritura como Palavra de Deus, consultar os Princípios Denominacionais, elaborar a conclusão e levá-la de volta à Escritura para que Ela nos diga se a nossa conclusão está conforme a Palavra de Deus. Karl Barth mostra que o erro do Liberalismo foi partir da Escritura e nunca mais voltar a ela. 

A Teologia Evangélica, como ele denominava seu trabalho, deve partir da Escritura e voltar, constantemente, a ela para sofrer a sua avaliação. Somente ela tem a palavra final, pois ela é, afinal, a Palavra. Somente podemos avançar à medida que nos aprofundarmos na Escritura e na Tradição. Sem isso, a Teologia poderá ser um grande e belo edifício construído sobre areia movediça. Em nosso meio batista, devido à nossa ênfase na palavra, nem todo pregador é pastor, mas todo pastor é (ou deveria ser) pregador! Mas, como ser pregador de uma Palavra que foi escrita há dois ou três milênios atrás, sem que este pregador domine os conceitos de Exegese, de História e de Hermenêutica? É preciso saber ouvir onde o galo canta para que possamos apontar o lugar. 

O pregador é o que aponta: Eis aí o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29,36). Assim sendo, o pastor, além de ser pregador, deve, exatamente por ser pregador, saber interpretar e lidar com os recursos da Teologia! Isto significa que temos o sagrado dever de ler, estudar e fazer teologia. Se nós não lermos, o melhor que conseguiremos fazer de nós será uma casta de analfabetos teológicos. (Leia-se aqui analfabetismo bíblico e doutrinal!). Se nós, pastores, formos analfabetos, o que serão as nossas ovelhas? A exclusão da Teologia do exercício pastoral pode acarretar sérios problemas tal qual a deficiência de uma vitamina no organismo de uma criança. Nós, como Igreja de Cristo, somos o Corpo do Senhor. Foi a crítica da Teologia que fez a Igreja voltar ao seu prumo com o reformador Martinho Lutero. É ela a responsável pela avaliação e atualização constantes da Igreja, dos Princípios Batistas, e da Instituição. Sem Teologia, teremos pastores despreparados e débeis; por conseguinte, teremos membros de igreja conduzidos e seduzidos por todo e qualquer vento de doutrina (Ef 4.14). O meu povo peca porque lhe falta conhecimento (Os 4.6). 

Não havendo sábia direção, o povo peca (Pv 11.14). Expressões hoje correntes no meio evangélico popular, tais como encosto, descarrego, estreito, sal grosso, entre outras, foram retirados de religiões pagãs de feitiçaria, enxertados em alguns cultos de orientação neopentecostal, e largamente utilizados por pastores até de nossas igrejas batistas. É a falta do conhecimento bíblico-teológico que faz surgir expressões como: Deus foi convidado para este culto e hoje vai visitar o seu povo. (Ora, quem é convidado não faz parte da família. Quem visita não mora na casa. Acabou o evento, a pessoa vai embora! Mas o Espírito Santo veio habitar definitivamente em nós, conforme Jo 14.17; Rm 8.11; 1Co 6.19). Ó Deus, manda-me a porção dobrada do teu Espírito Santo… (Só se pode pedir isso numa perspectiva de ser humano para ser humano, tal como fez Eliseu antes da trasladação de Elias (2Rs 2.9-10). Como poderia eu pedir a Deus duas vezes a totalidade existente do Espírito Santo? Deus daria um sorriso e me diria: Infelizmente, não posso atender tal pedido em vista de Eu ter apenas um Espírito). Rompendo em fé, vou mover o sobrenatural. (As três primeiras palavras geram o que se chama de anacolutismo linguístico. Frases vazias e desprovidas de sentido. Mover o sobrenatural’ é uma linguagem própria das religiões de magia. Nada possui de Cristianismo). Pela fé eu contemplo um homem de branco no meio da igreja…. (Se for numa comunidade anglicana, esse homem poderia ser qualquer dos clérigos ou ministros. 

Mas se se refere a Cristo, estamos incorrendo no mesmo equívoco que tanto combatemos. Estamos criando ídolos. Queremos dar forma e imagem ao nosso objeto de culto. Nós condenamos as imagens do culto romano, mas criamos dessas visagens para o culto batista. Não façamos imagens nem visagens. Não precisamos de fantasmas nas nossas celebrações). Ó Deus, eu ordeno que tu faças… Eu declaro que tu vais fazer assim, se de fato tu fores o Deus que eu creio… A Teologia Evangélica é serva humilde e nos ensina que a correta doutrina bíblica nos diz que nós somos servos e servas e somente Deus é o Senhor e só Ele pode ordenar. Estas expressões, além de equivocadas, estão plenas de arrogância porque se revestem de uma autoridade que não nos compete. Estão embasadas numa hermenêutica débil e consequentemente gerou uma teologia débil, porém, muito cheia de empáfia. 

Que tal exigirmos dos nossos poetas e compositores que aprendam Bíblia e doutrina antes de fazerem suas canções? A Teologia Evangélica é um instrumento poderoso que a Trindade colocou à disposição da Igreja e ao serviço da compreensão das Sagradas Escrituras, no preparo de estudos e sermões, para melhor alimentar o rebanho de Cristo. Se quisermos construir uma igreja sadia, com doutrina sadia e com gente sadia, temos que procurar auxílio da teologia sadia. Isso só é possível se formos às Sagradas Escrituras, respeitando os nossos princípios e voltando constantemente às Sagradas Escrituras. Esta é a importância da boa Educação Teológica para o exercício do Ministério Pastoral e crescimento espiritual do Corpo do Senhor Jesus Cristo. O terceiro domingo de novembro é considerado o Dia de Educação Teológica no meio batista. Infelizmente, muitas igrejas disso se esqueceram. É assaz fundamental retornar a essa comemoração. Para isso, sugerimos a todas as igrejas batistas da CBP que em um de seus cultos de novembro ou de dezembro não se esqueçam dessa data que já foi fundamental em nosso calendário. Algumas ideias que a Igreja pode fazer no próximo domingo: a) agradecer a Deus pelos prestimosos serviços que os seminários e faculdades batistas têm prestado a Deus, à denominação e ao ministério batista preparando pastores, missionários, músicos, educadores, agentes sociais e outros importantes ministérios para as igrejas; b) despertar nas igrejas novos vocacionados (a Seara é grande e poucos são os trabalhadores); c) levantar uma oferta especial no dia de Educação Teológica ou em um domingo a posteriori para a instituição de ensino de seu estado ou que sua igreja tenha adotado. Isso ajudará na aquisição de novos livros que beneficiarão os seus alunos, contribuirá para a restauração de prédios, compra de equipamentos e pagamento de décimo terceiro e férias para professores e funcionários, além de poder oferecer bolsas de estudos para alunos que estejam engajados diretamente em missões ou plantação de igrejas. d) adotar algum aluno da instituição estadual ou regional da igreja, que esteja envolvido em um tipo de ministério eficiente e que esteja promovendo o crescimento do Reino de Deus. 

Há muitos empresários e empresárias que podem ser tocados pelo Espírito Santo de Deus para ajudar na preparação daqueles que serão os futuros pastores e missionários em nossa denominação. 

Autor:Pr. Jaziel Guerreiro Martins é pastor batista, filiado à OPBB, diretor da Faculdade Teológica Batista do Paraná e Presidente da ABIBET. É mestre em Teologia e doutor em Ciências da Religião, escritor de vários livros e artigos na área de Teologia.