É quase a mesma coisa: o sentimento de culpa, o mal-estar gerado pelo
pecado, a tristeza pelo pecado, a vergonha de ter pecado, o remorso que
o pecado causa. Quando verdadeiro, preciso e sensato, o sentimento de
culpa é positivo. Sem ele são impossíveis a confissão, o perdão e a
restauração. Um dos mais preciosos ministérios do Espírito Santo é
convencer o pecador de seu pecado.
É possível imaginar a força do sentimento de culpa que tomou conta,
por exemplo, de Davi, depois do escândalo de seu adultério com a mulher
de Urias, e de Pedro, depois de ter negado publicamente a Jesus Cristo,
num ambiente hostil e num momento mais do que impróprio. Contudo, a mais
dramática descrição de sentimento de culpa talvez seja a que se
encontra em Lamentações de Jeremias 1.14: “Ele tomou nota dos meus
pecados, amarrou-os todos juntos, pendurou-os no meu pescoço, e o peso
deles acabou com as minhas forças”.
Certamente uma pessoa acometida por esse quase insuportável mal-estar
faz algumas perguntas: como sair dessa situação? desse confronto? dessa
pena mental e emocional? dessa complicação em que me encontro? Antes de
se apropriar do perdão gracioso e completo da parte de Deus, essa
pessoa, como que desesperada, pode fazer as mesmas perguntas de forma
mais dramática e direta: quantos quilos pesa o sentimento de culpa?
Para ser aliviada, precisa conhecer ou reconhecer o anúncio das boas
novas. Jesus Cristo tem de ser apresentado numa perspectiva salvífica –
ou soteriológica –, a mais relevante de todas, pois ele é “o Cordeiro
que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Usando as mesmas palavras de
Jeremias, diz-se que Jesus remove aquela lista de pecados, um amarrado
no outro, todos pendurados no pescoço da pessoa culpada e cujo peso a
está estrangulando.
Para ser completamente aliviada, a pessoa, visivelmente transtornada,
deve ficar por dentro daquela cerimônia do Antigo Testamento que
acontecia uma vez por ano, no chamado Dia da Expiação, ou Dia do Perdão,
quando a culpa do pecado era simbolicamente transferida para o bode
emissário, o qual era então levado para o deserto. O momento mais solene
é quando o sumo sacerdote põe as mãos na cabeça do animal e confessa
todas as culpas e faltas e todos os pecados dos israelitas (Lv 16.21).
Esse cerimonial não é mais necessário porque Jesus, na cruz do
Calvário, concretizou aquilo que era a esperança de todo o povo, tomando
sobre si mesmo o pecado e a culpa do que estava envergado pelo peso de
seu próprio pecado. Paulo explica que Deus nos perdoou todos os pecados e
destruiu (ou cancelou, ou removeu, ou apagou) a lista de pecados (Lm
1.14), “pregando-a na cruz de Cristo” (Cl 2.13-14)!