Mas a Nova Aliança vê de modo diferente: Para o crente em Jesus
Cristo é resultado do pecado vencido; é a esperança da ressurreição,
como Paulo canta: "Mas, quando isto que é corruptível se revestir da
incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade,
então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na
vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, o teu aguilhão? O
aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a
Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo" (1Co 15.
54-57).
Não! Não devemos temer falar sobre a morte, mesmo a morte pessoal.
Mas que a crise vem, vem. É a perda do pai, e o despreparo da mãe para a vida prática tomando providências que nunca havia tomado anteriormente; é a reorganização das finanças, o corte de despesas; é o dizer "não" aos pedidos dos filhos. Mas é também o compreender que "a família é uma sociedade que se desfaz no tempo para se recompor no intemporal", na eternidade (cf. Guitton p. 45). As separações trazidas pela morte nos lembram e às nossas famílias que elas são instrumentos transitórios que o Criador dispôs no mundo. Desaparece a família, mas não as existências que a compõem, e mesmo as relações que as constituem. A morte não separa a família: "E Abraão expirou, morrendo em boa velhice, velho e cheio de dias; e foi congregado ao seu povo" Gn 25.8).
Disse Sócrates que a essência da filosofia é o preparo para a morte. Davi, o poeta, antes dele dissera, "O meu coração constrange-se dentro de mim, e terrores de morte sobre mim caíram. Temor e tremor me sobrevêm, e o horror me envolveu" ( Sl 55.4,5), e Hebreus 2.15b tem uma magistral declaração sobre o medo de morrer: "Com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão".
É nesse ponto que chega o paradoxo do evangelho: quando se aceita o fato da morte, fica-se livre para viver! Não faz sentido para o crente olhar a morte como cessação. A vida não acaba. Na verdade, acontece uma transição, ou como Jesus o colocou: "Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também". ( Jo 14.2,3 ) e também, "Declarou-lhes Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá" ( Jo 11.25).
John Donne, autor do século 17: "Toda a humanidade tem um só Autor, e um único volume; quando alguém morre, um capítulo não é tirado do livro, mas traduzido em um idioma melhor; e cada capítulo deve ser assim traduzido. Deus emprega vários tradutores; algumas peças são traduzidas pela idade, outras pela doença, algumas pela guerra, outras pela justiça; mas a mão de Deus opera em cada tradução; e a sua mão irá encadernar de novo todas as nossas folhas que foram espalhadas, para aquela Biblioteca onde cada livro ficará aberto um para o outro".
O IDOSO
O mundo tem hoje, ano 2004, aproximadamente seiscentos milhões
de habitantes acima dos sessenta anos. Hoje, no Brasil, há cerca de
quinze milhões vivendo a chamada "terceira idade", e, no entanto, nossa
sociedade é voltada para o moço: musculação, malhação, festas, a própria
arquitetura urbana. A Bíblia, porém, mostra o cuidado divino nos anos
da velhice: "Até a vossa velhice eu sou o mesmo, e ainda até as cãs eu
vos carregarei; eu vos criei, e vos levarei, sim, eu vos carregarei e
vos livrarei" (Is 46.4), e afirma seu valor e dignidade: "O orgulho dos
jovens está na sua força; a honra dos velhos está nos seus cabelos
brancos" (Pv 20.29; 1Tm 5.1,2a). Jovens têm energia física, mas ela se
esvai; o idoso porém, tem a glória de sua idade cantada, como vimos, nos
Provérbios.
Cada idade tem seus dons particulares para enriquecer a vida da família e a sociedade de modo geral: a infância, a adolescência, a juventude, a idade adulta, o ancião. São partes autênticas e valiosas, e cada idade deve ser vivida dentro dela mesma: nem menina pintada como moça feita (que moda horrorosa!), nem senhora querendo ser mocinha (há coisa mais ridícula? ). Que tudo venha naturalmente, não esquecendo o jovem que um dia será idoso, nem o adulto que já foi jovem no passado.