O que fizemos com o domingo? Parte 2

Quando somos crianças, filhos de pais cristãos, não sabemos porque vamos à igreja. Somos levados. Entre os que somos levados, alguns gostamos.
 
Os demais, por que vamos?
 
Não penso nisto quando lamento aqueles que não vão. Penso nesta pergunta quando vejo uma pessoa entrando na igreja com dificuldade, empurrada numa cadeira de rodas. Lembro-me deste assunto quando acompanho alguém precisando tomar fôlego para galgar cada degrau ou cada passo da rampa que lhe leva ao salão de culto. Trago esta questão para minha agenda quando me encontro com alguém que, depois de anos longe da igreja, retorna, sem qualquer explicação aparente.
 
Confesso: fico encantado. Admito: fico intrigado.
 
Por isto, examino algumas explicações para o ato de ir à igreja (entendida como o lugar onde as pessoas se reúnem como igreja).
 
É comum ouvirmos que as pessoas vão à igreja para recarregar as baterias. Neste caso, ela é como um posto de gasolina onde o carro é abastecido (de combustível ou outros acessórios, como a bateria). Conquanto cultuar a Deus na igreja nos fortaleça para a vida, pensar na igreja apenas nesta dimensão nos transporta para uma visão utilitária da igreja. Se não precisamos de combustível, não vamos ao posto. No caso da igreja, vamos lá apenas buscar o que precisamos.
 
Também escutamos que as pessoas vão à igreja para entrar na presença de Deus. Prevalece ainda um certo conceito, típico da era do primeiro Testamento, que Deus mora no lugar em que é cultuado. Essa ideia, que aparece também em muitas orações ("Entramos, Senhor, em tua presença"), é bastante nociva. Do Deus revelado na Bíblia nunca temos como sair de sua presença, mesmo que estejamos tentando fugir dele, como Agar no deserto. Lembremos também do salmo 139.
 
Às vezes, alguns formulam a frase que vão à igreja para agradar a Deus, como se o ato fizesse bem a Deus. Vence, neste caso, a pedagogia do medo. A ideia de "agradar a Deus" pode trazer no seu interior o medo de "desagradar a Deus". Nesse caso, ele não é agradado porque é bom, mas porque não pode ser desagradado. Não é de de estranhar que nem todas as crianças que iam à igreja se tornaram adultos que a frequentam. Muitos deixam de ir à igreja quando perdem o medo infantil de Deus. Não custa afirmar que infundir medo nos outros é coisa de gente, não é coisa de Deus.
 
Com muita sinceridade, uns reconhecem que vão à igreja para encontrar pessoas. Esta não é uma motivação de todo ruim.
 
Sobram, na verdade, boas razões para fazermos do domingo, por meio da igreja, um lugar de descanso e celebração.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO