A nossa vulnerabilidade e as consequências da queda moral

Na condição de líderes, somos vulneráveis como qualquer outra pessoa. Tiago, referindo-se ao profeta Elias, diz: “Elias, sujeito às mesmas paixões que nós”, sendo humano como nós, orou (5.17).  Desde a desobediência dos nossos pais no princípio da Criação, somos sujeitos à queda, a cairmos diante de qualquer tentação. A natureza humana que ainda está em nós trabalha diariamente contra o Espírito em nosso espírito para que não façamos a vontade de Deus (Gl 5.16,17). 

O rei Davi não suportou a pressão da sua carne ou natureza humana diante da sensualidade de Batseba. Creio que não foi simplesmente o primeiro olhar. Como precisamos ter cuidado com os nossos olhos, com a sua concupiscência e com a soberba da vida (1 João 2.16). 

Nós somos tentados a todo instante. O nosso inimigo é implacável e conhece muito bem as nossas fraquezas. Jesus disse que o diabo veio para matar, roubar e destruir (João 10.10). É muito triste a realidade de líderes que estão caindo moralmente e de outros que estão se divorciando por incompatibilidade de gênios.

Como seres humanos, somos vulneráveis diante da tentação. Só podemos vencê-las em Cristo, pois Nele somos mais que vencedores (Rm 8.37). O apóstolo Paulo testemunhou: “Trazendo sempre por toda a parte mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal” (2 Co 4.10). Precisamos orar todos os dias nesse texto paulino. A consciência de nossa vulnerabilidade ou de uma possível queda moral não deve nos levar a justificativas, mas a uma confiança inabalável na obra de Cristo na cruz e na ressurreição (Rm 6.1-11). Jesus afirmou categoricamente no jardim do Getsêmani o seguinte: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Jesus é perfeito em sua avalição da vulnerável condição humana.

Como líderes – pastores e missionários –, precisamos ter a humildade para reconhecer as nossas fraquezas e dependermos inteiramente da graça de Deus. É claro que precisamos fazer a nossa parte como o Senhor exortou Caim: “Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás” (Gn 4.7). Ao andar na contramão da exortação do Senhor é que Caim matou o seu irmão Abel. Sabemos que a graça do Senhor nos basta, é suficiente para vencermos as batalhas dentro e fora de nós. O poder do Senhor se aperfeiçoa em nossa fraqueza, ou seja, quando reconhecemos que “sem Ele nada podemos fazer” (2 Co 12.9,10; João 15.5).

Como precisamos ter cuidado com os nossos olhos (Mt 5.28,29) e com os nossos pensamentos! Devemos ordenar o nosso pensar com base em Filipenses 4.8. O nosso sentir e o nosso pensar devem estar guardados em Cristo Jesus. Paulo nos ensina que “nós temos a mente de Cristo” (1 Co 2.16). Peçamos ao Senhor todos os dias que purifique os nossos pensamentos e sentimentos. É necessário e urgente que busquemos a “santificação sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Não nos esqueçamos de que o nosso corpo é templo do Espírito Santo (1 Co 6.19,20). O homem e a mulher de Deus devem sempre olhar para a suficiência de Jesus, o Autor e Consumador da fé (Hb 12.2). Diante das pressões terríveis da carne e desse mundo perverso, precisamos dizer três coisas para o Senhor: “Eu sou fraco; eu não posso; mas tu podes”. [1]

Os líderes que são tentados e cedem à tentação não têm muitas vezes a consciência do seu erro ou da sua queda. Sabemos que o rei Davi foi perdoado do pecado de adultério, mas Deus não tirou as consequências do seu erro. É o que Paulo deixa claro em Gálatas 6.7: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que homem semear, isso também ceifará”. Alguém disse que “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”.

O autor do precioso livro, “Dinheiro, Sexo e Poder”, explica como o dinheiro pode embelezar o nosso relacionamento com Deus e abençoar a humanidade – e como a ganância corrompe até o ato de dar. Tratando sobre sexo, o autor oferece um arcabouço teológico que diferencia a sexualidade saudável das distorções que afligem a sociedade. Acerca do poder, ele considera os elementos que transformam o poder legítimo em manipulação, domínio ilícito e tirania ou ditadura, e nos ajuda a confrontar o nosso próprio desejo insano de chegarmos ao topo.  A Bíblia nos ensina que sexo, dinheiro e poder (aqui considero autoridade) devem exaltar a glória de Deus. [2]

Um artigo da revista Leadership (liderança) intitulado “Consequências da Queda Moral”, Randy Alcorn diz que sempre se sente “particularmente vulnerável a uma tentação sexual”. Ele acha muito útil rever os efeitos que tal atitude poderia causar. Algumas coisas mencionadas por ele são:

Decepcionar o Senhor que me redimiu …
Ter que um dia olhar para Jesus … cara a cara, e dar conta de minhas atitudes …
Inflingir tamanha dor em … sua melhor amiga e leal esposa … perder o respeito e confiança (dela).
Magoar minhas queridas filhas …
Destruir meu exemplo e credibilidade perante meus filhos, e anular tanto os esforços presentes quanto futuros para ensiná-los a obedecer a Deus …
Envergonhar minha família …
Criar um tipo de culpa difícil de perdoar. Mesmo se fosse perdoado por Deus, será que eu poderia perdoar a mim mesmo?
Formar lembranças e memórias que poderiam prejudicar, no futuro, a intimidade com minha esposa.
Desperdiçar aos de treinamentos e experiencia de ministério por um longo tempo, talvez permanentemente.
Minar o exemplo de fidelidade e trabalho dedicado dos outros cristãos em nossa comunidade.
Proporcionar a Satanás um prazer especial, o inimigo de Deus e de tudo o que é bom …
Possivelmente suportar as consequências físicas tais como gonorreia, sífilis, clamídia, herpes e AIDS; talvez infectar minha esposa, ou em caso de AIDS, até mesmo causar a sua morte.
Possivelmente causar uma gravidez, com implicações pessoais, e financeiras, incluindo uma lembrança de meu pecado para toda a vida …
Envergonhar e magoar meus amigos, especialmente os que ganhei e discipulei para Cristo.


Que o Pai nos livre da queda moral. Seja Cristo Jesus o centro das nossas decisões. Sejamos cheios do Espírito Santo, não nos embriagando com os prazeres deste mundo. Como Jesus ensinou: Sejamos simples como as pombas e prudentes como as serpentes (Mt 10.17). Que a nossa vulnerabilidade tendente à queda moral encontre a invulnerabilidade de Deus. Seja Ele glorificado em nosso pensar, sentir e agir. Oremos como Davi em sua obra de confissão: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto ou inabalável” (Sl 51.10).

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob