OS CRISTÃOS E A FOFOCA (SYLVIO MACRI)

Fofoca é uma palavra que caiu em desuso ultimamente, depois que passou-se a empregar uma expressão inglesa – fake news – para substitui-la. A nova designação veio da moderna mídia, especialmente das chamadas redes sociais. Mas, apesar da nova expressão, a velha essência da fofoca continua a mesma, isto é, a difusão de uma falsa informação, o espalhar de uma interpretação deturpada de algo que pode ser verdade, mas dessa maneira se torna meia verdade, ou a revelação de uma informação confidencial que não deveria ser tornada pública. 

A fofoca pode atingir uma ou mais pessoas, uma instituição, uma organização, uma autoridade, etc. Assim, a fofoca pode ser uma mentira, uma falsidade. Pode ser também a manipulação de um fato a fim de fazê-lo parecer aquilo que não é. Pode ser ainda a execração pública de alguém pela publicação de algo que deveria permanecer em segredo.


Com o advento, popularização e uso em massa das redes sociais, a fofoca tornou-se uma grande epidemia, talvez a maior praga moral de nossa época. Uma parte cada vez maior dos usuários dessas redes arvoraram-se em juízes dos outros e passaram a difundir – “compartilhar” no linguajar das redes – tudo o que podem, seja verdadeiro ou não, para atacar e, se possível, destruir pessoas, instituições, organizações, autoridades, etc. Como diz o sábio de Provérbios, “a língua mentirosa odeia suas vítimas” (Pv.26.28 - NVT). Esse comportamento de ódio pode ser motivado por ideologia, preconceito, inveja, vingança, desvios de personalidade, etc. Sim, a fofoca é uma arma de destruição moral e, às vezes, também de destruição física e psicológica.

Nada disso me surpreende, pois há muito aprendi na Palavra de Deus “que o mundo inteiro está sob o controle do maligno” (1Jo.5.19 - NVT). O que me causa espécie é o envolvimento dos cristãos nessa fofocaria. Como cristão que sou, a maioria dos meus contatos nas redes sociais é com os irmãos em Cristo, e frequentemente me indigno com a maneira como muitos deles divulgam em suas postagens mentiras, manipulações, insinuações, juízos, condenações, acerca de tudo e de todos, sem ter o cuidado de verificar se o que compartilham é verdadeiro, é pertinente, é necessário, é conveniente, é construtivo, é ideológico, é preconceituoso, é intolerante, é falto de amor. Também me preocupa a divulgação de “pensamentos” e “conselhos” aparentemente corretos, mas que carecem de fundamento bíblico, ou vão contra os ensinos bíblicos.  Parece que certos cristãos acham que uma rede social é um espaço em que eles estão liberados de agir e falar como cristãos.

Desde cedo estabeleci como princípio não escrever e não compartilhar nas minhas redes sociais absolutamente nada que possa, com razão ou não, denegrir qualquer pessoa, instituição, organização ou autoridade, especialmente postagens políticas. Também não compartilho “informações que estão prestes a desaparecer da internet”, remédios milagrosos, fotos hediondas de pessoas doentes ou feridas, pretensos golpes de bandidos, etc. O que me motiva é o ensino claro de Jesus em Mateus 5.37: “Quando disserem ‘sim’, seja de fato sim. Quando disserem ‘não’, seja de fato não. Qualquer coisa além disso, vem do maligno.” (NVT). Também levo muito a sério o que ensinou Tiago, irmão de Jesus, sobre a língua. Não é só mero discurso, trata-se de afirmação profundamente realista: “Entre todas as partes do corpo, a língua é uma chama de fogo. É um mundo de maldade que corrompe todo o corpo. Ateia fogo a uma vida inteira, pois o próprio inferno a acende. Ela é incontrolável e perversa, cheia de veneno mortífero. Às vezes louva nosso Senhor e Pai e, às vezes, amaldiçoa aqueles que Deus criou à sua imagem. E, assim bênção e maldição saem da mesma boca. Meus irmãos, isso não está certo! Acaso de uma mesma fonte pode jorrar água doce e amarga?” (Tg.3.6,8-11 - NVT).