Violência familiar -Está na hora de falar sobre o assunto - Parte 1

Um dos assuntos colocados à margem da agenda de discussão, nos arraiais evangélicos, é a questão da violência familiar.
A sociedade de modo geral tem se preocupado com a questão. Como igreja evangélica não podemos ficar alienados. O primeiro passo para um envolvimento positivo da igreja nesta questão é tomar conhecimento de alguns dados estatísticos que temos em mãos.
Só para se ter uma idéia da gravidade da questão, é bom lembrar que todos os dias, mais de 18 mil crianças são espancadas no país, segundo os dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Ainda segundo a UNICEF as mais afetadas são meninas entre sete e 14 anos. No Brasil, onde existe uma população de quase 67 milhões de crianças de até 14 anos, são registrados 500 mil casos/ano de violência doméstica de diferentes tipos. Em 70% destes casos os agressores são os pais biológicos.




Em Curitiba, a cada seis horas, as autoridades municipais tomam conhecimento de pelo menos uma criança vítima de violência, abuso sexual ou de maus tratos praticados pela própria família, em uma situação que é classificada de emergência.

Os dados são baseados nas estatísticas do SOS Criança, serviço mantido pela prefeitura de Curitiba para garantir socorro a vítimas de agressão familiar. Somente no período de 15 de setembro a 15 de outubro, os agentes do serviço registraram 220 atendimentos (sendo que cerca de 120 somente para atender casos de violência ou maus-tratos). No Rio de Janeiro, numa pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre 'violência doméstica', o tipo mais comum de violência é a sexual (31,6%), seguida de maus tratos físicos (27,7%), negligência (24%) e abuso psicológico (15,8%). Na maioria das vezes, o algoz é o pai ou padrasto.
Até aqui temos um lado da questão da violência doméstica, isto é, a violência contra as crianças. O outro lado triste é a questão da violência contra a mulher.
Segundo o ISER (Instituto de Estudos Religiosos), as agressões contra mulheres, cometidas pelos seus parceiros, no Rio de Janeiro, quase dobraram nos últimos nove anos (1992-2001): passaram de 17.596 para 34.831. A maioria dos casos é de queixas de lesões corporais dolosas, com 59,3% dos registros feitos às delegacias especializadas em atendimento às mulheres. Um outro dado, desta vez fornecido pelo SOS Mulher, da Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, de março de 1999, ano da criação, até janeiro de 2001, foram atendidas 1.495 mulheres. Na sua maioria, mulheres entre 19 e 29 anos, agredidas pelos próprios parceiros. O que causa tristeza maior é saber que somente 15% dos homens que agridem mulheres hoje são punidos no Brasil.
Estes dados devem levar a uma reflexão por parte dos líderes evangélicos e da própria igreja evangélica brasileira.
Um outro caminho é estar consciente que o problema também acontece em famílias de nossas igrejas. Ignorar ou achar que o problema não existe em algumas famílias de nossas igrejas é adotar uma postura covarde e alienante. Em nosso trabalho com casais, em diversas partes do Brasil, através das dinâmicas de grupo que realizamos, podemos verificar sinais claros de que o problema também existe em nossos arraiais.
O que podemos fazer como pastores e líderes? Quais seriam os possíveis caminhos que uma igreja disposta a ministrar às famílias pode tomar?

Autor(a): Gilson Bifano