Antigamente nós tínhamos uma visão muito romântica de missões. Era
mais uma atividade heróica, em que a pessoa partia para uma verdadeira
aventura em terras estranhas, para pregar o evangelho a pessoas
estranhas, que nunca o teriam ouvido e, muito provavelmente, mostrariam
uma forte reação à Palavra de Deus. Os lugares para onde se enviavam os
missionários, mesmo que fossem cidades, geralmente eram de difícil
acesso e sem recursos, de maneira que ser missionário representava,
antes de mais nada, renunciar ao convívio da família e ao conforto do
lugar de origem.
Este conceito mudou radicalmente. Hoje temos uma visão muito mais
ampla da obra missionária. Compreendemos agora que ela não se faz
somente nos sertões e nos países distantes, mas igualmente bem pertinho
da porta da nossa casa. E não estamos falando aqui daquele conhecido
argumento que diz que cada um de nós, os crentes, pode ser também um
missionário. Referimo-nos a enviar missionários e sustentá-los para
trabalhar na nossa própria cidade.
Mesmo a nossa visão de missões mundiais ampliou-se grande-mente, em
virtude da globalização da economia, dos transportes e das comunicações;
a viagem de avião para qualquer nação do mundo pode ser feita em menos
de vinte e quatro horas, e a comunicação via satélite se dá em tempo
real. Atualmente os evangélicos brasileiros estão fazendo missões em
praticamente todas as nações do mundo.
Também chegamos a compreender que fazer missões não é só enviar
missionários brasileiros, mas, talvez até em muito maior proporção,
buscar obreiros da própria nação ou povo que queremos evangelizar. São
os chamados missionários da terra ou autóctones, que têm muito mais
facilidade para fazer a obra de missões que os estrangeiros, pois não
têm, como estes, que gastar um longo tempo para aprender a língua e os
costumes dos povos aos quais são enviados e para ganhar a sua confiança.
E há mais uma vantagem: é muito mais fácil sustentar um missionário da
terra do que um estrangeiro.
Outra coisa que contribuiu para mudar a nossa visão missionária é
que o mundo tornou-se urbanizado. O nosso próprio país tornou-se tão
urbanizado que hoje menos de 15% da população vivem nas áreas rurais. E
há verdadeiras megalópoles espalhadas por todo o mundo, onde o tráfico
de drogas, o crime organizado, a prostituição, os vícios, as falsas
religiões já chegaram, e o evangelho ainda não chegou. Ou se chegou, a
sua penetração é ainda insignificante. O grande campo missionário da
atualidade são as grandes cidades.
Mesmo nas grandes concentrações urbanas do Brasil, onde temos tantas
igrejas, tornou-se necessário ter pessoas especialmente chamadas por
Deus e sustentadas por nós para trabalhar naqueles lugares onde a
maioria dos crentes não pode ir por falta de tempo, de oportunidade, de
treinamento e de credenciamento ou licença. São os hospitais, as
cadeias, os portos, as casas de internação de viciados, as de internação
de menores, os pontos turísticos, as universidades, etc. Há também as
atividades arriscadas, como o trabalho nas favelas e com os moradores de
rua.
Realizar missões nessa nossa “aldeia global” é um privilégio e uma
responsabilidade sem precedentes, porque, se por um lado o progresso
facilitou o acesso a todos os pontos do planeta Terra, assim permitindo
que a mensagem do evangelho penetrasse em qualquer lugar, mesmo nos mais
fechados, por outro lado, esta oportunidade sem igual precisa ser
urgentemente aproveitada, antes que termine a nossa geração, antes que
outros milhões de pessoas morram sem ouvir falar de Jesus. Deus deu à
nossa geração o que não deu às anteriores: a chance de cumprir o “Ide”
de Jesus numa dimensão jamais vista. Está em nossas mãos fazê-lo, as
condições estão dadas.
Entretanto, é mais fácil para Deus mover a roda da História, como tem
feito, criando tantas oportunidades para missões, do que mover o
coração duro dos crentes que não se abrem para essa obra. Sim, porque
essa é uma questão não só da vontade de Deus, mas também da vontade do
homem. Ele é soberano, mas espera a nossa participação voluntária na
obra, pois este é o seu plano: que homens e mulheres sejam suas
testemunhas em todo o mundo, que se engajem, indo diretamente aos campos
ou contribuindo para o sustento dos que vão, e que orem para que a obra
dê resultados.
Portanto, o grande problema da obra missionária neste mundo sem
fronteiras não são as barreiras raciais, culturais, políticas ou
logísticas, mas a falta de recursos humanos, financeiros e espirituais.
Precisamos de mais gente para ir aos campos, precisamos de mais gente
participando financeiramente, precisamos de mais gente orando por
missões.
Em tempos recentes apurou-se que o valor médio ofertado por ano para a
obra missionária pelos evangélicos brasileiros é menor que o valor de
uma Coca-Cola. Isto mesmo: todo o dinheiro dado para Missões pelos
crentes brasileiros, dividido pelo número total desses crentes, dá um
valor anual menor que o preço de uma latinha de Coca-Cola, que a gente
consome em poucos minutos. Este é o maior problema de missões: crentes
que não dão nada ou quase nada para a obra missionária, igrejas que
nunca aparecem nas listas de ofertas, ou que aparecem com ofertas
simbólicas. Não nos enganemos, irmãos: todos nós haveremos de comparecer
perante o tribunal de Cristo e prestar contas da nossa omissão nesta
hora, neste mundo de tantas oportunidades. Que nenhum dos que me lêem
seja achado culpado naquele dia.
Pr. Sylvio Macri
Pastor da IB Central de Oswaldo Cruz-RJ
Pastor da IB Central de Oswaldo Cruz-RJ