“Vendo Raquel que não dava filhos a
Jacó, teve inveja de sua irmã, e disse a Jacó: Dá-me filhos, senão eu morro” – Gên.30.1 (IBB – VR, de acordo com os melhores
textos em hebraico e grego).
Raquel,
a esposa amada de Jacó. A esposa por quem trabalhara sete preciosos anos de sua
juventude e que foram como que poucos dias, pelo muito que a amava (Gên.29.20).
Ela
era estéril.
A
impossibilidade de uma mulher judia naqueles dias de gerar filhos era tida como
um opróbrio, isto é, como desonra, afronta, vergonha, como definem os
dicionários.
Chegou
um momento de sua vida e de seu relacionamento conjugal em que o que estava
latente em seu coração não dava mais para segurar, tinha que ser verbalizado de
uma forma candente, como expressa o texto sagrado: “Dá-me filhos ou morro”.
Ela
não aceitava mais, pacificamente, aquela situação, vendo que outra (sua irmã) e
outras mulheres podiam engravidar e dar à luz filhos e ela não. Se ela em tudo
era normal, menos nesse particular. Se ela estava casada com um homem saudável.
Se ela estava vivendo numa atmosfera em que Adonai (O Senhor) se fazia sentir,
por quê a limitação vivida por ela?...
Creio
que este é também o grito da Igreja que pensa, que se auto avalia, que conhece
a sua história como igreja local. A igreja que está estéril. A igreja que não
produz “filhos espirituais”.
A
igreja que cresce não como fruto de “dores de parto”, como Paulo escreve às
igrejas da Galácia: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de
parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gál.4.19), mas pelo remanejamento
de membros(portabilidade) de uma igreja para a outra, a maioria deles eivados
de vícios eclesiásticos.
Os
membros de nossas igrejas desde a década de 60 do século passado desaprenderam
de evangelizar, ou melhor, deixaram de obedecer à ordem de Jesus que é: “vão e
façam discípulos...” (Mt.28:19ª – NVI).
Vivemos
dias em que as igrejas vivem de programas. São os mais diversos. Lindos,
maravilhosos. Saímos das reuniões como que andando em nuvens. Colorido variado,
arranjos musicais celestiais, coreografia maravilhosa. Mexem com os nossos
olhos e com as nossas emoções e com os nossos esqueletos... Nada contra tudo
isso de bonito, artístico, que dá muito trabalho para ensaiar, mas, e o
resultado prático em “filhos espirituais”, em “novos nascimentos”(Jo.3)?...
Paciente
leitor, a Raquel de Gênesis 30 não se contentou com uma série de coisas boas
que a rodeavam... Ela queria parir (dar à luz) filho, filhos... E ela não
aceitou a condição que lhe foi imposta... E a Palavra nos diz, no mesmo
capítulo, lá nos versículos 22 a 24 o seguinte:
“Também
lembrou-se Deus de Raquel, ouviu-a e a tornou fecunda. De modo que ela concebeu
e deu à luz um filho, e disse: Tirou-me Deus o opróbrio. E chamou-lhe José,
dizendo: Acrescente-me o Senhor ainda outro filho”.
Há
um Deus que nos prova, que se lembra, que ouve, que torna fecunda, que
possibilita conceber e dar à luz filho e filhos.
Creio
que só com “dores de parto”, isto é, querendo, com insistência, desconforto, e
com “lagrimas” é que a igreja dá à luz “filhos espirituais”. “Os novos
nascimentos” não ocorrem com efeitos especiais, luzes e cores... O Salmo 126
fala de “semear chorando”.
As
orações da igreja têm sido com olhos secos, enxutos. Só com olhos molhados de
lágrimas é que os “filhos espirituais” vão nascer. Só quando, com lágrimas nos
olhos, com sentimento em nossos corações dissermos diante de Deus: “Deus, por
favor, salve meu irmão “fulano de tal”“. Deus, por favor, salve meu filho
“João”, salve minha filha “Débora”, salve o ascensorista de meu prédio, “o
Manuel”, salve meu professor “Filipe”, objetivamente.
Deus
ouviu a oração “molhada” de Raquel.
Tenho
constatado nesses meus quarenta anos de Ministério Pastoral que a maioria dos líderes
cristãos não é ganhadora de almas, através do evangelismo pessoal. A
investidura ministerial é tão pesada e tão santa que eles têm deixado de ser
práticos e a maioria não conhece a pescaria “com anzol”.
O
Deus é o mesmo.
Ele
não muda. Nós mudamos.
A
igreja tem mudado muito e para pior, no que tange a multiplicar-se e em outras
áreas.
O
que Deus fez com Raquel pode e quer fazer com a igreja hoje. E o que me
impressiona em Raquel é que ao dar à luz um filho deu-lhe o nome de José, que
significa, segundo o dicionário da Bíblia de John D. Davis “possa ele
acrescentar”, isto é, “quero outro”, “quero mais”...
Esse
deve e tem de ser o espírito da igreja, o espírito de Raquel, eu quero mais....
Eu quero o bairro, queremos ganhar o Brasil para Cristo... E Deus que é
generoso deu mais.
Deu
Benjamim, ainda que para isso ela tivesse de morrer em meio às “dores de
parto”, em meio a um mar de lágrimas.
Deu
dois príncipes a Israel. Deu gente de muito valor para o povo e nação de Israel
e para o novo Israel, a igreja espalhada por toda a terra. A Igreja precisa
gerar novas pessoas preciosas, comprometidas com Deus e com sua Obra, menos
preocupadas consigo mesmas e mais preocupadas com o Reino, para levar a nossa
denominação e as demais denominações evangélicas a um porvir glorioso.
José,
conhecemos a sua rica, emocionante e inigualável história. Ele tinha o coração
de sua mãe, aprendeu a chorar. Chorou ao rever os seus irmãos que o venderam
aos Ismaelitas.
Benjamim
foi dele que foi escolhido o primeiro rei de Israel, Saul. Foi de Benjamim que
brotou, no tempo de Deus, um menino chamado Saulo, que veio a ser o nosso
amorável irmão e apóstolo Paulo. Oh! Glória a Deus!!!
Lembre-se,
eu e você somos igreja. Quantas pessoas você está evangelizando? ...Quantos
discípulos você tem?... Quais os nomes deles? ... Seja esse o grito da igreja
hoje, o grito de Raquel: “Dá-me filhos, senão eu morro”. E morre
mesmo... Quantas igrejas já morreram no velho continente e em tantos outros
lugares do mundo, inclusive no Brasil!
Pr.
Eraldo Bernardo - Igreja Batista Memorial em Manguinhos, Rio, Rj.