Quando se usa esta expressão alguém pode pensar que se trata de um
exagero. Afinal de contas, “trevas” é uma palavra pesada. Mas, pensemos
bem, primeiro definindo adequadamente o que são trevas, depois aplicando
seu significado às situações por que passam as nossas cidades,
esclarecendo, entretanto, que o uso que fazemos da palavra é figurado.
Nesse sentido o dicionário define trevas como “ignorância, cegueira,
obscuridade, incapacidade, morte”. Os sábios gregos descreviam as trevas
como um perigo objetivo e subjetivo, porque a escuridão é o mundo dos
mortos.
Do ponto de vista bíblico, as trevas representam tudo aquilo que é
maligno, que ameaça a vida, que é moralmente mau. Trevas são o lugar
onde a luz de Deus não brilha. Já no passado distante dizia o profeta
Isaías: “O povo andará de um lugar para outro, sem rumo, desanimado e
com fome. Por causa da fome, ficarão com raiva e amaldiçoarão o seu rei e
o seu Deus. Olharão para o céu e depois para a terra e verão somente
sofrimento e escuridão, trevas e angústia; porém, não poderão escapar
delas” (Is.8.21,22).
A imensa maioria da nossa população é de baixa (ou baixíssima) renda,
não tem como comprar produtos de primeira necessidade em quantidade
suficiente e não tem acesso a serviços públicos decentes como hospitais,
escolas e justiça. Uma grande parte mora em favelas, sem segurança e
sem saneamento básico. Pela perspectiva de ignorância, incapacidade,
obscuridade e morte, esta situação se transforma num verdadeiro estado
de opressão. A sensação dessa gente é que está mergulhada numa longa
noite, de trevas sem fim.
Por outro lado, uma parcela menor dos habitantes da cidade é
privilegiada com tudo que é negado aos outros: moradia e educação
decente, plano de saúde, boa renda, etc. Mas o que é pior é que estes se
constituem nos opressores daqueles que acima definimos como oprimidos.
Grande parte da renda dos ricos é obtida pela exploração dos pobres. E
isto é uma ameaça para a paz entre os habitantes da cidade. Isto também é
treva.
A escravidão de milhares de habitantes da cidade aos vícios da bebida
e das drogas, é evidência clara de cegueira, moral e espiritual. Não há
outra explicação para o fato de tanta gente se submeter voluntariamente
a uma degradação tão grande da própria existência. Conhecendo o
depoimento de pessoas que viviam nessa situação, e afinal tiveram a
percepção da mesma, concluímos que elas estavam verdadeiramente nas
trevas.
Outra situação que vivemos em nossas cidades, que é evidência do domínio das trevas nos corações, é a criminalidade e a violência que aterrorizam a nossa população. É claro que os homens fazem suas escolhas e não se pode dizer que a marginalidade é apenas produto da miséria, mas não temos dúvida de se trata de uma operação do príncipe das trevas. O medo que se espalhou nos corações dos nossos concidadãos é obra satânica, porque a obra de Jesus é encher os corações de segurança e esperança.
Trevas são também as atitudes de indiferença e de rejeição para com
as coisas de Deus. Milhões de pessoas não se interessam, absolutamente,
nem por conhecer a Palavra de Deus nem por obedecer seus preceitos, mas
se envolvem profundamente com todo tipo de atividade mundana que se faz
na cidade. E outros milhões são adeptos de religiões e práticas
espirituais que contrariam frontalmente a Bíblia. Como diz o apóstolo
Paulo, “Eles não podem crer porque o Deus deste mundo conservou a mente
deles na escuridão” (2Co.4.4).
Por último, há as falsas igrejas de Cristo, pregando um evangelho
falso e enganando a população. Mas além disso, provocando também o
descrédito do evangelho por causa da busca desenfreada de dinheiro, por
um lado, e da falta de mudança no comportamento, por outro. É evangelho
falso porque só quer o dinheiro das pessoas e porque não muda ninguém.
Novamente a Bíblia diz: “Isso não é de admirar, pois até Satanás pode se
disfarçar e ficar parecendo um anjo de luz.” (2Co.11.14). Vejam só: o
príncipe da escuridão disfarçando-se de anjo de luz!
Por essa razão precisamos pregar o evangelho. E fazê-lo é pregar
contra as injustiças e opressões que existem em nossas cidades. Fazê-lo é
também agir para mitigar as dores do nosso povo de todas as maneiras
possíveis. Pregar o evangelho é lutar contra todo tipo de vícios, aos
quais não podemos ser simpáticos nem indiferentes. É lutar para arrancar
das garras do crime todos aqueles em nosso redor que estão envolvidos
com ele, mesmo os que estão nas prisões.
Precisamos erguer a grande tocha de luz que é Jesus, para que o nosso
povo conheça aquele único que pode libertá-lo, regenerá-lo e dar um
novo sentido à sua vida. Precisamos nós também refletir essa luz em
nossa vida, por viver em santidade e mostrar convicção e procedimento
incorruptível. Que o Senhor nos ajude a sermos corajosos, desinibidos,
para falar a todos os habitantes das cidades que Jesus é luz. Quem foi
iluminado pela luz, quem conhece a luz e anda na luz tem a obrigação de
compartilhá-la com os outros. Esse é o nosso dever para com os nossos
conterrâneos das nossas cidades.
Jesus disse que quem o segue jamais anda em trevas. E disse também
que ele é o caminho para Deus. Portanto, Jesus é um caminho sem trevas,
um caminho de luz. O povo das nossas cidades anda como aquelas pessoas
descritas pelo apóstolo Paulo em Atos 17.27, na cidade de Atenas:
tateando na escuridão, na sua busca de um deus qualquer, desconhecido.
Precisamos, como fez Paulo na ocasião, anunciar-lhes o Deus verdadeiro,
para que possam também andar na luz. É nosso dever fazê-lo, por amor às
nossas cidades, por amor aos nossos concidadãos e por amor a Deus, que
enviou seu Filho para salvá-los.
Jesus disse que nós somos a luz do mundo. De fato, os que recebem a
luz de Cristo tornam-se portadores dela, refletem-na em suas vidas. As
lâmpadas sempre são instaladas no alto dos postes ou no teto das casas,
para que possam irradiar ao máximo a sua luminosidade. Assim também é
nosso dever mostrar a luz de Jesus Cristo em nossas vidas para que os
nossos concidadãos possam perceber como o Senhor transformou nossas
vidas, como ele nos libertou, nos restaurou e como ele nos dá poder para
derrotar o pecado. Precisamos mostrar-lhes como é possível viver na luz
e refleti-la.
Jesus também afirmou que é preciso trabalhar rápido, enquanto é dia,
porque a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Quando Jesus disse
isto não havia trabalho noturno, porque não havia energia elétrica, mas o
que ele quis mesmo dizer é que chegará o tempo em que cessarão as
oportunidades de pregar o evangelho. Nessa ocasião seremos todos
chamados a dar contas de nossas vidas ao Senhor dos senhores. E
perguntamos: Qual será a nossa desculpa por não cumprirmos no tempo
presente o nosso dever de difundir a luz de Jesus aos nossos
conterrâneos?
Quando falta a luz em nossa casa procuramos logo acender uma vela ou
um lampião, porque a falta de luz nos incomoda e nos deixa inseguros.
Além disso, podemos sofrer um acidente por andarmos na escuridão. Por
que, então, não nos sentimos tão incomodados com as trevas espirituais e
morais que nos cercam diariamente por todos os lados? Vamos acender a
luz de Jesus para todo o povo de nossas cidades!
Pr. Sylvio Macri
Pastor da IB Central de Oswaldo Cruz-RJ
Pastor da IB Central de Oswaldo Cruz-RJ