José, que venceu a tentação do ódio

Como alguns de nós, José tinha todos os motivos do mundo para odiar seus irmãos, mas não os odiou. Seus irmãos invejaram o sucesso de José, mas José usou este sucesso para prover as vidas deles de todos os bens possíveis, para eles e para seus descendentes.
Seus irmãos planejaram tirar a vida de José, mas José lhes preservou as vidas quando as teve em suas mãos. Seus irmãos usaram de artifícios para lhe fazer o mal, mas José empregou diferentes estratégias para lhes fazer o bem. Gênesis 50.14-25

Seus irmãos mudaram a vida de José, tirando-o do seio da sua família, enquanto José mudou a vida deles, fazendo-os viver outra vez em família. Seus irmãos livraram-se dele na primeira oportunidade, enquanto José arriscou a sua vida para demonstrar misericórdia para com eles.


José é, pois, também protótipo daquela atitude que a Bíblia recomenda: o de pagar o mal com o bem. Os exemplos em todos os tempos são diferentes destes. A lei do talião continua válida. Somos todos movidos pelo sentimento de justiça, não de misericórdia.

2. COMO JOSÉ VENCEU O ÓDIO?
 
José, portanto, tinha todos os motivos do mundo para odiar seus irmãos. No entanto, não nutriu este sentimento. Ele venceu o ódio. O que fez?

2.1. José não questionou se seu pai tinha mesmo dito aquilo que seus irmãos informaram que ele disse (v. 15). A raiz do ódio é esta: queremos ter razão. José poderia ter dito: se eles tivessem outra atitude... Se eles fossem mais humildes... Eles estavam movidos pelo medo, diante do poder do irmão. O irmão, no entanto, não mandou investigar as atitudes deles. O vencedor não queria vencer seus irmãos; antes, queria vencer a si mesmo, aos seus próprios sentimentos. Pare de querer ter razão. Deixe de odiar aquele amigo que você não considera mais como seu amigo. Pare de odiar aquele cônjuge de quem um dia você se separou. Pare de odiar seu filho, a quem você não considera mais como filho. Pare de odiar seu irmão, que um dia brincou com você. Pare de odiar seu pai, que não merece o filho que tem.

2.2. José queria amar seus irmãos e não odiá-los. Ele buscava pretexto para demonstrar amor, não para demonstrar ódio. José era mesmo uma pessoa boa. Só as pessoas boas são capazes de não se deixar levar par o ódio. Se você guarda ódio de alguém, certamente você não é tão bom quanto acha que é.

2.3. José não se escondeu atrás do esquisito pedido de perdão. Era um pedido indireto, porque colocado na boca de seu pai recentemente falecido, mas assim mesmo José o levou em conta. Era um pedido indireto, porque feito por meio de intermediários, mas assim mesmo José o levou em conta. Era um pedido movido pelo medo, mas era um pedido, e José o considerou. Aceite os pedidos indiretos, com ou sem intermediários, mesmo que inadequadamente apresentados.

2.4. José foi capaz de chorar. José, possivelmente, chorou por ter recebido o pedido de sua vida: o de perdão, vindo dos seus irmãos, com quem vivia uma relação mal resolvida havia uns 50 anos. José não esperou o choro dos irmãos; ele chorou primeiro. José, possivelmente, chorou de alívio, depois de carregar aquele fardo durante décadas. Seja capaz de chorar; livre-se dos fardos da sua vida. Comece a viver.

2.5. José foi capaz de cuidar dos seus irmãos, além de os perdoar (v. 21). Sua vida com os irmãos foi algo rico e não meramente um relacionamento formal, em homenagem ao pai morto. Ele ajudou a seus irmãos e se prontificou a ajudar seus sobrinhos, enfim, a todos os descendentes dos seus irmãos, como de fato o fez. Ele foi, pois, capaz de ir além do perdão; deu de si, do que tinha materialmente, para tornar concreto seu gesto. Vá além do perdão formal. Troque o ódio pelo amor.

2.6. José foi capaz de viver em harmonia com seus irmãos. Sua atitude — de lhes perdoar e tratar com cordialidade! — trouxe concórdia e unidade à família (v. 22). Mesmo depois de morto, ele queria estar junto dos seus, dos seus que o venderam como escravo para desconhecidos. José se libertou do passado para viver um futuro promissor. Faça como José: livre-se do passado feito de ofensa, desrespeito, ingratidão. Ele foi capaz de abençoar seus irmãos e descendentes (v. 24). Você tem abençoado ou amaldiçoado seu irmão, seu pai, seu filho, seu vizinho?

3. POR QUE JOSÉ VENCEU O ÓDIO?
 
3.1. José não se colocou no lugar de Deus (v. 19). Em outras palavras, ele não pretendeu fazer justiça. Ele não castigou seus irmãos, como mereciam. A justiça ele deixou para Deus. Ele recusou o papel. Num outro sentido para o verso, ele mandou que seus irmãos se levantassem porque não se considerou melhor que eles só porque foi capaz de lhes perdoar. Deixe de querer ser Deus. Deixe para Ele a justiça. Peça-lhe força para perdoar.

3.2. José teve a perspectiva teológica correta acerca do que lhe acontecera (v. 20; cf. 45.5). Ele não poderia mudar seu passado, mas podia interpretá-lo. De fato, seus irmãos planejaram fazer-lhe o mal. No entanto, ele interpretou estes acontecimentos do passado como sendo projetos de Deus para a sua vida. Os atos dos seus irmãos foram atos dos seus irmãos e continuavam como tais. Jacó, no entanto, transcendeu os fatos para ser feliz. Não se deixe fazer escravo dos fatos; transforme os fatos em bênçãos.

3.3. José teve a perspectiva prática correta: ele conseguiu, graças a misericórdia de Deus, transformar o mal em bem, não somente para si mesmo, mas para muitas pessoas (v. 20). José não vivia tão somente para si. O objetivo de sua vida não era sua exclusiva felicidade, mas a do seu povo.

4. CONCLUSÃO
Por isto, José venceu o ódio. Vença-o também.
Tome você a iniciativa de demonstrar amor. Não espere.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO