Incendiário Moral

“Sem lenha, o fogo se apaga; e sem difamador, o conflito cessa.” (Provérbios 26.20).

Foi, provavelmente, com esse provérbio de Salomão na cabeça que Tiago usou a mesma metáfora quando disse: “Vede como um grande bosque é incendiado por uma faísca. A língua também é um fogo; sim, como um mundo de maldade, ela é colocada entre os membros do nosso corpo e põe em chamas o curso da nossa existência, sendo por sua vez posta em chamas pelo inferno.” (Tg.3.5b,6). Portanto, o “fofoqueiro” é um incendiário moral. A maledicência tem o poder de transformar um pequeno problema num grande desastre; um fogo prestes a se extinguir naturalmente, por falta de combustível, torna-se um grande incêndio.

Aconteceu numa igreja do Rio de Janeiro: um irmão disse ao pastor que uma das irmãs foi vista, com a filha pequena, dançando carnaval de rua, seminua. O pastor perguntou: “O irmão viu?” “Não”- respondeu ele – “mas o irmão fulano me contou.” E de pessoa em pessoa que não tinha visto, mas tinha ouvido dizer, o pastor finalmente chegou à testemunha ocular, que tinha visto a irmã atravessar a rua em meio a um bloco de carnaval, trazendo a filhinha pela mão, e comentou com outra pessoa que isso não era muito adequado para uma mulher crente, ainda mais acompanhada de uma criança.
Não estava dançando, nem estava seminua, só atravessava a rua. Talvez para ir à igreja.

Um amigo muito brincalhão, pastor pentecostal, me perguntou: “Você já viu o testemunho de um ex-fofoqueiro?” Parei, pensei, e respondi: “Não, já vi testemunho de ex-dependente químico, ex-criminoso, ex-prostituta, ex-homossexual e outros, mas ex-fofoqueiro, não.” Rimos e comentamos: “Pois é, nunca ninguém foi diante da igreja para dizer: Irmãos eu era um grande fofoqueiro, mas Cristo me libertou!” Pelo contrário, alguns que antes nem eram fofoqueiros, depois da conversão passaram a ser. Pessoas criadas na igreja se tornaram maledicentes porque cresceram e se desenvolveram numa cultura de maledicência. E isso é antigo: escrevendo aos coríntios, Paulo menciona “calúnias e falatórios” (2Co.12.20).

O problema com a fofoca é que ela é atraente, como diz o sábio proverbial: “As palavras do difamador são como a comida saborosa, que desce direto ao estomago.” (Pv.26.22). E também dissimulada: “Quando alguém te falar com voz mansa, desconfia, pois no seu coração há sete pecados detestáveis. Ainda que seu ódio seja encoberto pela dissimulação, a sua maldade será revelada diante de todos.” (Pv.26.25,26). E o ódio dissimulado é muito pior que o ódio declarado, porque aquele que parece amigo na verdade é inimigo.

Portanto, vigiemos para que “não saia da nossa boca nenhuma palavra que cause destruição, mas só a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que transmita graça aos que a ouvem.” (Ef.4.29).

Pr. Sylvio Macri
Pastor da Igreja B. Central de Oswaldo Cruz-RJ